Praça Roosevelt na Consolação

Praça Roosevelt na ConsolaçãoA Praça Roosevelt na Consolação é um logradouro situado na área central da cidade de São Paulo, entre as ruas da Consolação e Augusta.

Nela há um conjunto arquitetônico de concreto construído na década de 1960 sobre a passagem subterrânea entre o Elevado Costa e Silva e a Ligação Leste-Oeste.

A praça já foi conhecida também como Praça da Consolação.

História

A área onde hoje fica a praça pertencia a Dona Veridiana Prado no século XIX. Ela possuía um sobrado ao lado da antiga Igreja da Consolação, onde costumava ficar quando estava na capital.

Na época, a região era considerada um dos subúrbios de São Paulo. Quando Dona Veridiana começou a construir seu palacete em Higienópolis, no final dos anos 1880, a chácara começou a ser lotada, dando origem a ruas e, mais tarde, àquela que ficou conhecida como Praça da Consolação.

Praça Roosevelt - Anos 40
No início do século XX ali funcionava o Velódromo de São Paulo, primeiro estádio de futebol do Brasil, desapropriado em 1915 para dar lugar à Rua Nestor Pestana.

Quando começou a ser construída a Igreja Nossa Senhora da Consolação, de frente para a Rua da Consolação, em 1910, o terreno ao lado da nova igreja passou a ser usado como estacionamento e espaço para feiras livres.

Criada originalmente sem planejamento, a praça foi asfaltada na década de 1950 sem o devido nivelamento de terreno, o que passou a causar deslizamentos que acabavam com parte do asfalto.

Foi a partir dessa urbanização que nos registros oficiais da cidade passou a constar o nome do logradouro como Praça Roosevelt. A área livre atrás da igreja passou a ser um estacionamento para setecentos carros.

No local também funcionava uma feira livre às quartas-feiras e aos sábados; nos outros dias da semana o trecho asfaltado servia como estacionamento.

Praça Roosevelt - Anos 50 A feira da quarta-feira seria extinta em maio de 1961, com a intenção de melhorar o trânsito da região. Já a partir dos anos 1950 o bairro em torno da praça começou a ver seus casarões ser demolidos, embora tenha tido árvores até antes do projeto de que seria alvo no final da década de 1960.

Ao longo dos anos 1960 a região viveu sua "fase áurea", com cinemas de arte e boates frequentadas por artistas.


"A Roosevelt era uma comunidade", lembrou em 2011 a atriz e diretora Dulce Muniz. "Na ditadura, fizemos daqui o nosso reduto. Todas as pessoas ligadas à arte vinham aqui. Com a construção da praça, a região foi decaindo.

Degradação

Nenhum dos empreendimentos instalados na praça a partir de sua inauguração deu certo. Apesar da intenção de que a praça virasse um marco da cidade, ela sofreu um processo de degradação a partir da década de 1980.

Ao longo dessa década muitas das casas de show deixaram a praça, mas, em compensação, ela foi "descoberta" por skatistas como ponto de encontro para manobras.A escola que havia no local passou a ser constantemente invadida e depredada depois da desativação, e mesmo um emparedamento não resolveu o problema.

O último a deixar a praça foi o supermercado Pão de Açúcar, em 2006, e sua saída é considerada pela vizinhança como um dos motivos para a praça ter virado "esconderijo e marginais, drogados e moradores de rua".

Praça Roosevelt - Anos 60

A praça, com rachaduras nas estruturas que causavam goteiras no espaço inferior, passou a ser tomada por mendigos e viciados em drogas, que ficavam embaixo da rampa ao lado da igreja durante a madrugada.

Em 1997 tentou-se instalar na praça os 1,2 mil camelôs e artesãos que participavam de uma feira na Praça da República havia 20 anos, mas os artesãos protestaram e a iniciativa não foi para a frente.

Nessa época, já falava-se em "demolição total da praça a partir de janeiro de 1998", com o plantio de árvores e canteiros e a construção de uma pista de cooper.

"A praça tem construções de concreto acima do nível das ruas", explica José Eduardo Lefèvre, responsável pelos projetos de revitalização apresentados em 2005. "Você não enxerga o que tem dentro e não é atraído para entrar.

Revitalização

O primeiro teatro, do grupo Os Satyros, chegou à praça em 2000, "para disputar espaço com traficantes e prostitutas", segundo relatou a revista Sãopaulo em 2011.

"A praça estava destruída", contou Rodolfo Vázquez, um dos fundadores do grupo, em 2011. "A rotina com os traficantes era muito difícil. Eles quebravam as luzes das calçadas e ninguém queria passar por aqui.

Praça Roosevelt na Consolação O primeiro período foi heroico. Ninguém que frequentava a região aceitava a gente."

Em 2001 uma reforma de emergência, em que foram gastos 150 mil reais, facilitou o acesso de pedestres com a demolição de algumas muretas e o reparo de alguns gradis, e foram também retirados bancos com a intenção de impedir a presença moradores de rua.


No ano seguinte um financiamento do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) previa investimentos na recuperação de quatro praças na região central, uma delas a Roosevelt, que acabou sendo a única entre as quatro a não ser revitalizada, sob alegação de falta de uma discussão em audiência pública.

Segundo Vázquez, a última vez que recebeu ameaças de traficantes foi em 2005, uma época em que os espetáculos apresentados nos teatros da praça começaram a fazer sucesso.

Em junho desse mesmo ano, quando a praça era uma das "vitrines" do prefeito José Serra, então recém-empossado, e depois em abril de 2007 a prefeitura anunciou um plano de demolição da "Praça Pentagonal", para deixar a Praça Roosevelt totalmente plana, com a construção de um jardim, que ficaria pronto em abril de 2009, mas em abril de 2008 a licitação ainda não tinha sequer sido feita e, em junho, o Jornal da Tarde decretava, em manchete, que a reforma tinha "virado lenda"

Vida Cultural

Antes da construção das estruturas de concreto, era na Praça Roosevelt que se encontravam expoentes da Bossa Nova em São Paulo. No restaurante Baiúca, que ficava na Praça, reuniam-se nomes como Johnny Alf e Zimbo Trio ao longo das décadas de 1950 e 1960.

Praça Roosevelt na Consolação O primeiro show de Elis Regina na cidade foi no bar Djalma's, também localizado na praça, em 5 de agosto de 1964. Até fins da década de 2000 o bar, já com outro nome, ainda recebia fãs de Elis.

Foi também na praça que surgiu o Cine Bijou, o primeiro cinema de arte da cidade. Inaugurado em 1962, passou a ser uma das principais salas exibindo filmes de arte na cidade, mas entrou em decadência junto com a praça.

Com isso, os filmes de arte deram lugar a títulos mais comerciais, mas isso não impediu que o cinema fechasse as portas nos anos 1990.

No prédio do cinema passou a funcionar o Teatro Studio 184. Parte do prédio, entretanto, voltou a exibir filmes de arte quinzenalmente a partir de 2011.
Além dos eventos culturais realizados quando da inauguração das estruturas de concreto, em 25 de janeiro de 1970, naquele dia foi aberta uma exposição de escultuas monumentais ao ar livre, segundo a revista Veja para "sondar a capacidade inventiva dos artistas e a reação do público".

Grupo Parlapatões na Praça Roosevelt No começo do século XXI a chegada de grupos teatrais, como os Parlapatões e os Satyros, deu novos ares culturais à praça, sem, no entanto, aliviar a degradação social das estruturas de concreto. "Quando chegamos à praça, em dezembro de 2000, a Roosevelt era considerada um dos locais mais perigosos do centro de São Paulo, comparável à Cracolândia em violência e número de assassinatos", contou Rodolfo García Vázquez, fundador dos Satyros, à Folha de S. Paulo em 2007.

"Com o decorrer dos anos, pela ação dos teatros principalmente, a praça passou a ser uma área de cultura e arte, rodeada de vários bolsões de prostituição e tráfico." Para o JT, "a praça se tornou um dos endereços alternativos da classe artística de São Paulo". Diogo Viana, diretor do mesmo grupo, comparou em 2009 os dois momentos da Praça ao Jornal da Tarde:

"No começo aqui era um depósito de lixo. Os traficantes de droga viviam ameaçando a gente. Hoje a Roosevelt virou um espaço para o teatro underground. Um teatro veloz, onde tudo pode acontecer." Os Satyros criaram em 2005 as Satyrianas, um festival de artes cênicas que foi incorporado pelo calendário oficial de eventos da cidade.

Praça Roosevelt na Consolação

A Praça Roosevelt tem sido também o ponto final de concentração da Parada do orgulho LGBT de São Paulo. Ela serviu ainda de inspiração para a dramaturga alemã Dea Loher, que escreveu a peça A Vida na Praça Roosevelt (Das Leben auf der Praça Roosevelt, em alemão).

"Descobri a praça com os olhos deles", contou a dramaturga à Folha de S. Paulo em 2004, referindo-se aos fundadores dos Satyros.

"Eles abriram esse microcosmos para mim como modelo miniatura da sociedade, com as hierarquias e os conflitos. De repente, pareceu quase lógico escrever sobre a praça."

Em setembro de 2009 os estabelecimentos comerciais da praça receberam uma exposição de jornais franceses raros da segunda metade do século XIX. As reproduções, com gravuras da classe artística foram espalhadas por diversos estabelecimentos, da loja de produtos para animais ao carrinho de pipoqueiro que costuma ficar na frente dos teatros.

"A intenção é unir os moradores e frequentadores da praça, tão degradada, em torno do que lhe é mais característico, o teatro, a arte", disse o organizador, Dario Bueno, ao Jornal da Tarde. "Fui tão bem acolhido, não queria deixar ninguém de fora. Bati de porta em porta e o interesse foi geral."


Praça Roosevelt na Consolação




 



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